DA MINHA VARANDA VIII

 
     
 

Passo horas, sentado à porta da minha varanda. Aqui, leio, rezo, vejo quem passa e planeio as atividades das paróquias que me estão confiadas. Aqui vou olhando o horizonte, como quem espera por alguém que teima em não voltar, com o mesmo espírito com que o povo português do século XVI, esperava por el-rei D. Sebastião.

Nesta espetativa, vou-me mentalizando de que a situação de um cura, pastor de fiéis, nesta fase de pandemia, está muito difícil. São  dificuldades de toda a ordem: é o Covid_19, o calor excessivo da canícula, a assistência religiosa às várias comunidades. É também alguma teimosia na falta de apoio superior, em relação aos nossos colaboradores e a situação económica das nossas paróquias que muito nos preocupa.

Em ambiente de Igreja, vai-se apregoando uma Igreja pobre, como pobre foi Cristo. E está certo, mas acabamos por ter uma Igreja miserável, onde nem existem fundos para as despesas mais elementares: eletricidade, água, desinfetantes, deslocações do pároco, etc. Esta situação ultrapassa a missão do cura dos fiéis e exige uma resposta superior.

Será assim que, nesta situação miserável, em pleno século XXI, se constói uma pastoral missionária autêntica? Ir para o deserto, descalço, sem alforge, exausto pela força dos anos, sem apoio e com fome, julgo que hoje, não traz garantias de êxito, nem é incentivo ao aparecimento de novas vocações. Tinha razão D. Augusto César, quando em 1995, numa carta circular dirigida aos diocesanos desta diocese, por ocasião da criação do contributo familiar, escrevia: “A fé tem de passar obrigatoriamente pela carteira dos fiéis”.

 

Pessoalmente, sinto-me uma ovelha do rebanho a acarrar, debaixo do sobreiro, à espera do dia seguinte.

O grande espírito de fé que nos anima, (e agora mais que nunca) não basta, porque não somos anjos. Somos humanos que precisamos de estímulos, apoios e reconhecimento ao nosso esforço – ao nosso e de quem nos ajuda, pelo amor à Igreja de Deus. É verdade que sentimos o Amor do Pai do Céu, mas falta-nos, por vezes, outro que também é importante.

 

Enquanto olho para o céu azul, vou sentindo, cada vez mais saudades dos tempos passados, em que se sentia mais o calor do convívio são, entre colegas. Na vida prática nas paróquias, era a convivência entre colegas, independentemente das idades, eram os encontros de ajuda mútua, sobretudo no serviço de confissões, eram as visitas reciprocas, eram os encontros de arciprestado de um dia inteiro de atividades a que não faltava a “visita ad monumenta” da terra. Hoje, as distâncias, a situação económica, as mentalidades resultantes das diferenças de idades e a formação recebida nos diversos seminários cavaram inevitavelmente uma separação entre colegas.

Talvez tivesse razão aquele colega que, há algum tempo, me dizia ao ouvido:  “Ó António, nós ainda somos do tempo em que bispos e padres eramos mais irmãos e mais unidos!.”

Em tempo de pandemia, vamos esperando por el-rei D. Sebastião.